Thursday, August 30, 2007

30.08.2007 (Quinta-f) - De Ponta Delgada para Lisboa. Final da Viagem

Hoje era o meu último dia em Ponta Delgada. Queria tentar ir à “torre” para ver a cidade de cima e assistir mais uma vez à relação desta com a paisagem circundante. As linhas perpendiculares ao mar decalcavam a paisagem construída e natural, interrompidas aqui e ali para dar lugar a pequenas tufos de árvores e pedras.
Havia algo de muito poético e equilibrado nesta cidade, nos seus espaços públicos e na sua arquitectura. São de uma imensa sofisticação que é contida e controlada. As pessoas são de uma generosidade imensa e curiosas. Sabia bem estar em Ponta Delgada...
No caminho passei pelo mercado. Diferentemente do mercado do Funchal este era maior em área mas menos activo. Uma comerciante disse-me que os dias de maior actividade eram à quinta-feira, sábado e segunda-feira. Estranhamente também não haviam turistas a circundarem... Haviam ananases em abundância e algum peixe nas bancas sem ser capaz de os identificar. Queria andar pela Rua Valverde e deparei-me com o gabinete de arquitectura da cidade. Entrei por curiosidade e acabei por conhecer o Arq. Albano. Na parede do seu escritório pendurava uma planta da cidade em que topografia, orografia, divisões latifundiária e o tecido urbano se sobrepunham. Parecia um rendado de extrema complexidade e artesania à altura dos “etchings” de Albrecht Durer: a Natureza e a mão do homem a produzirem uma “peça” de elevado valor plástico. Disse-lhe que estava interessada na história esquecida de Ponta Delgada, sobretudo a sua relação com uma Ribeira que parece somente existir nas descrições de Gaspar Frutuoso. Albano disse que não só Ponta Delgada tinha uma ribeira como também as outras cidades ao longo da costa Sul. Todas apresentavam o modelo de desenvolvimento ao longo de uma das grotas, onde a Igreja se localizava primariamente com a presença ou não de um poço ! Em Ponta Delgada esta ribeira tinha desaparecido inversamente às outras ribeiras das outras cidades, mais representativas em dimensão e caudal...

Passei o resto das minhas horas a caminhar pela frente mar e pela Rua Valverde, outrora a Ribeira de Ponta Delgada. Em vez do Ribeiro tínhamos agora a nossa bela e performativa calçada portuguesa. Na minha cabeça mais questões do que respostas giravam. Pensava no dia que abalei de NY, havia precisamente 30 dias e na extensa informação acerca de cidades que tinha acumulado até então. Esta viagem foi como que um ciclo da minha identidade que se fechou. Neste último dia ao despedir-me de Francisco ele falou-me que a origem do sotaque açoriano tinha vindo maioritariamente pela presença numerosa de algarvios nas ilhas, donde sou originária! A sua presença deveu-se à sua mestria e conhecimento na produção de açúcar. Tal como Andaluzia, os Algarves foram os últimos redutos a serem conquistados aos mouros e os grandes bastiões de produção de açúcar. Ao ler Stuart Schwartz confirmei que o Algarve era um dos principais pólos de produção de açúcar no início do séc. XV. Sendo na altura considerado o “ouro branco” da aristocracia depressa Portugal necessitou de expandir a sua produção. Primeiramente na Madeira e Açores e depois, massivamente, no Brasil. E, foi assim que tudo começou...