Wednesday, August 29, 2007

29.08.2007 (Quarta-f) - Em Ponta Delgada

Fui cedo ao Arquivo de Ponta Delgada. Aquando na minha visita à Biblioteca Nacional em Lisboa não tinha conseguido encontrar mapas antigos da cidade onde pudesse identificar a estrutura inicial da cidade. No Arquivo tive oportunidade de conhecer o Historiador e responsável pelo Arquivo Dr. Francisco Silveira que, amavelmente, me guiou pela colecção de mapas antigas e de fotos antigas de Ponta Delgada. Estranhamente nada indicava a presença de ribeiros na cidade e parecia que toda a relação entre água estava ausente da história excepto na sua relação com o mar e alguns chafarizes comemorativos. Tinha encontrado um mapa com todas as linhas de água da ilha, chamadas “grotas”. Estas intensificavam-se perto das bocas dos vulcões e as linhas marcadas no território povoado, que tinha visto quando sobrevoava a ilha, apareciam em consonância com essas “grotas”.

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Porém nenhuma destas linhas parecia existir em Ponta Delgada. Francisco aconselhou-me a falar com alguém da Universidade, do Departamento de História, pois talvez encontrasse informação mais pormenorizada. Tal como o Funchal, Ponta Delgada era uma cidade de dualismos. Enquanto que Funchal se articulava entre o rural e o urbano, Ponta Delgada articula-se entre as funções económica e sociais de mercadores e nobres, entre o mar e a terra. Os poderes das elites, do sangue e do saber tinham imposto normas de divisão latifundiária na cidade que ainda se reflectem na sua forma urbana. Acreditava que não só a topografia e a orografia tinha sido determinantes na sua urbanidade mas também a sua estrutura social e económica tinha tido um papel fundamental. Acabei por me encontrar com o Prof. Damião Rodrigues, autor de múltiplos livros em exibição da Biblioteca da Universidade. De uma energia contagiante e sabedor profundo da história da cidade disse-me que iria em breve ao Brasil. Contei-lhe a minha viagem; Dos meus 22 dias por terras brasileiras à procura da matriz genética da sua fundação, da articulação entre Natureza e construído; tarefa que se tem revelado complexa e cheia de surpresas. Começou dizendo-me que a presente estrutura urbana de Ponta Delgada era muito semelhante à do séc. XIX.
Que económica e socialmente tinha como base de riqueza a relação entre mercadores e o termo rural. Que era uma portuária (não marítima) e agro cidade em que somente os nobres tinham estatuto social reconhecido. Por não ser uma cidade marítima não tinha um bairro de pescadores mas sim de mercadores, mas sem a escala de uma Amesterdão ou Londres. Falei-lhe que tinha lido em Gaspar Frutuosa acerca de uma ribeira que cruzava Ponta Delgada e da potencial relação da estrutura urbana da cidade com esta. Ele finalmente tinha confirmado o que Gaspar Frutuoso tinha escrito acerca de PD no séc. XVI: que na antiga Rua do Valverde, hoje Rua M Correia, nas costas da Matriz, existia uma Ribeira ! Finalmente tinha conseguido a confirmação da leitura de Gaspar Frutuoso.
Passei o resto da tarde a andar pelas ruas compridas de Ponta Delgada. Estas começavam onde hoje é a Rua dos Mercadores em direcção aos Outeiros da cidade. E ao longo destas diversas residências, com seus muros janelas alinhavam-se para produzir o dramático ponto de fuga. A inclinação suave impedia de ver o seu terminar. A Rua do Castilho, a rua Dr. Bruno Carreiro, Carvalho Araújo, Pedro Homem, Dágora, dos Manaiais, Joao Moreira... afunilavam-se em torno da praça da Matriz. Nesta crianças brincavam enquanto os poucos turistas da cidade e residentes bebiam cerveja na esplanada do café. Ali parecia o centro de convívio da cidade e o ambiente era propício a estar.Tinha avistado o maior edifício da cidade, um prédio de 23 andares perto da beira-mar. Nesta múltiplos bulldozers puxavam materiais de construção enquanto navios de elevado porte iam e vinham do cais . Ponta Delgada está aumentado a capacidade do seu porto e reestruturando a sua frente mar através do projecto “Portas do Mar”. Contrariamente ao que alguém dizia não achava que Ponta Delgada estivesse de “costas para o mar” pois toda a sua actividade comercial, desde tempos de fundação, tinha sido em estreita relação com o cais como aliás denuncia a forma urbana desta área. Este projecto da frente marítima parece estar a reforçar esta relação agora potencialmente de lazer e comercial.Talvez no dia seguinte conseguisse ir à “torre” de Ponta Delgada. De lá a vista deveria ser magnífica...