Saturday, August 18, 2007

18.08.2007 (Sabado) - No Rio II

Hoje queríamos mudar de hotel, para Ipanema onde pudéssemos sentir de perto a urbanidade da frente marítima do Rio. Não foi fácil nem barato pois maior parte dos hotéis estavam lotados. Andes de abalar para o outro lado da cidade queria filmar o centro histórico, percorrê-lo na sua extensão ao longo da enseada e ao longo da Rua Direita. Saberíamos que no centro não existia muita gente ao fim-de-semana já que grande parte da função residencial tinha desaparecido ao longo do século anterior. Isto, como nos tinham avisado, poderia representar alguma falta de segurança para a nossa captação de imagens.
Passámos pelo Parque do Flamengo, outro Parque de Burle Marx. Gente da rua lavavam-se nos lagos dos parques e ninguém caminhava em redor àquela hora.
Prosseguimos até à Av. Presidente António Carlos, outrora o Morro do Castelo que agora estendia o alinhamento da Rua 1º de Março. Esta era outrora a Rua Direita. Da Av. Presidente António Carlos, agora sem o morro, víamos com toda a claridade o Pão de Açúcar. O eixo apontava directamente para a formação granítica, iconografia da cidade e símbolo da sua beleza. A frente mar do centro histórico tinha sofrido inúmeros aterros e a outrora linha de água só encontrava reflexo no alinhamento da Rua Direita. Ao vermos mapas do séc. XVI vemos que esta rua era precisamente o offset da linha marítima e que ainda hoje é o fantasma dessa geografia !
A Rua da Misericórdia lembrava-nos da existência da Sta. Casa da Misericórdia e, adjacente a esta, somente um reminiscente da ladeira para o Castelo sobrevivia coo um achado arqueológico. Fomos encontrar um mar de gente por baixo da Av. Presidente Juscelino Kubitschek, um viaduto de betão que corta a relação directa entre a cidade com o mar. Ali acontecia a feira das antiguidades, um evento semanal na cidade do Rio. Se numa parte do troço haviam diversas antiguidades (como o nome da feira) noutra parte parecia a feira da Ladra em Lisboa. Pedaços de coisas por todo o lado sem se saber muito bem a sua utilidade. Dirigimo-nos para a beira mar e ali descobrimos vários pescadores e os seus barcos estacionados na baía. Perguntámos se apanhavam peixe por ali e disseram-nos que tinham de ir para áreas mais longe devido à poluição das águas. A vista para a baía era solene e extensa. O burburinho e a agitação da cidade tinham parado, só se ouvia as ondas a bater nas paredes do cais e um cão-pescador a ladrar a um mergulhão... A Praça 15 de Novembro, outrora o Terreiro do Paço (tal como em Lisboa), tinha perdido a sua relação cultural, comercial, cívica e administrativa com a água e o chafariz, colocado entre o cais e a praça, tinha perdido a sua função e dignidade como peça cívica. Rio de Janeiro deveria recuperar a sua relação simbólica e funcional com a água que foi quebrada quando foi erguida a Avenida-viaduto e o aeroporto Santos Dummont construído sobre um extenso aterro.
Entramos pelo arco da rua do Ouvidor. Casais jovens tomavam o seu almoço à sombra das acolhedoras esplanadas dos diversos restaurantes que ali abriam as suas portas. Não pareciam turistas mas sim casais “hip” do rio com os sofisticados strollers para os seus filhos. Parecia que o centro do Rio tem estado nas últimas décadas a ser revitalizado. Casas comerciais parecem ocupadas com variadas actividades culturais e de restauração. Porém, não encontrava sinais do uso residencial. Na Rua Visconde de Itaborai estavam localizadas diversas instituições culturais, tais como o Banco do Brasil e a Fundação Casa França-Brasil. Muita gente se reunia à porta desta à espera de entrar para a exposição em curso. Afinal, sábado parecia dinâmico no centro... Para os lados do morro de São Bento a paisagem mudou. Não vimos viva alma, excepto polícia armada que tinha um dos seus arsenais perto daquele. O outrora acesso para o Mosteiro estava encerrado e tomado pela vegetação cerrada e barulhento tráfego que desembocava da Av. Presidente JK, ali, frente ao portão do Mosteiro.
De Niterói a vista do Rio deveria ser magnífica, pensámos. Tomámos o Ferry na hora restante de luz em que não só puderíamos visitar o Museu de Arte Contemporânea de Neimeyer como também apreciar Rio de Janeiro ao pôr-do-sol. O Cristo redentor acolhia o vermelho vivo dos céus e as montanhas de granito recolhiam-se para a noite... Tal como nós que nos recolhíamos na noite de Ipanema.